Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres recebe fiéis entre os dias 20 e 26 de maio
Tradicional Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres atrai pessoas à ilha de São Miguel; herança açoriana se reflete em Florianópolis e em Araquari
Entre tantas manifestações da religiosidade açoriana, destaca-se, sobretudo na ilha de São Miguel, a Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, objeto de grande devoção no arquipélago e nos países onde os ilhéus plantaram os pés. A programação ocorre entre 20 e 26 de maio.
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Este é o maior evento religioso do arquipélago açoriano e prevê celebrações eucarísticas, incluindo missas e procissões com a imagem sendo transportada por diferentes locais de Ponta Delgada, capital da Região Autônoma dos Açores.
Milhares de fiéis residentes nas ilhas e também açorianos que voltam ao lugar de origem ou à pátria dos antepassados devem ser atraídos em um ato de fé e de pagamento de promessas ao santo.
Em seus veículos, o Grupo ND está publicando reportagens e programas especiais sobre as ilhas dentro do projeto “Viva Açores, conhecer é viver”. A Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres não está entre as manifestações do legado dos imigrantes que vieram para o litoral de Santa Catarina a partir de 1748 – aqui, o culto ao Divino Espírito Santo, cujo ciclo tem largada neste sábado (21), é a maior marca da religiosidade dos açorianos.
Se há registro de procissões na ilha de São Miguel desde o fim do século XVII, intriga os pesquisadores que essa tradição não percorreu os oito mil quilômetros que separam os Açores de Santa Catarina.
No livro “Na esquina das ilhas” (2020), a escritora Lélia Pereira Nunes especula que isso pode ser atribuído ao fato de a maioria dos imigrantes do século 18 ter saído das ilhas Terceira, Graciosa, Faial, Pico e São Jorge, e não de São Miguel.
Existem semelhanças entre este culto e a Festa do Senhor Bom Jesus realizada anualmente em Araquari, município do nordeste catarinense com forte influência da matriz açoriana, porém há diferenças na imagem e nas vestimentas do santo.
Além disso, o evento de Ponta Delgada assume proporções maiores por sua amplitude quase universal e por envolver fiéis dos Estados Unidos, Canadá e outros países onde se deu a diáspora. Eles voltam ao arquipélago neste período, trazendo sua crença e agradecendo a fortuna material feita no exterior.
No Rio de Janeiro, destino de muitos imigrantes micaelenses e terceirenses, o Senhor Santo Cristo dos Milagres é muito festejado – uma paróquia com seu nome na zona portuária está entre as mais importantes do Estado, do ponto de vista histórico.
A edição de 18 de maio do jornal “Portuguese Times”, de New Bedford (Massachusetts, EUA), traz várias páginas sobre a Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, venerado por toda a colônia açoriana na América do Norte.
Na capa, também aparece a foto da professora Lélia Nunes, uma das homenageadas com a insígnia que o Parlamento da Região Autônoma dos Açores entregará no dia 6 de junho a personalidades do arquipélago e da diáspora em reconhecimento ao trabalho de difusão dos Açores no mundo.
Imagem pungente e milagres do santo
A exemplo do Senhor Jesus dos Passos, em Florianópolis, a imagem do santo açoriano impressiona pelo olhar pungente, pela coroa de espinhos e pelo sofrimento resignado que exprime. Porém, há um conjunto de peças de ourivesaria que ornamentam a peça e suas capas, decoradas com fios de ouro e prata.
A imagem em madeira teria sido esculpida há quase 500 anos e oferecida pelo papa Paulo III a duas religiosas que queriam instalar um convento nos Açores. Há também a lenda de que um busto com a imagem de Cristo apareceu na praia e foi recolhido pelas freiras.
Com a veneração do povo e os milagres a ele atribuídos, o santo se tornou símbolo de fé para os habitantes – o que aumentou no terremoto de 11 de abril de 1700, quando a imagem em procissão caiu no chão e a terra parou de tremer.
A imagem conhecida como “Ecce homo” (“Eis o homem”, frase dita por Pôncio Pilatos ao apresentar Jesus Cristo aos judeus, antes do martírio, segundo o Evangelho) tem como referência e abrigo o mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada. O culto e as festas são realizados em torno do quinto domingo após a Páscoa, quando ocorre a grande procissão, e se estendem até a quinta-feira seguinte (Ascenção).
No livro “Na esquina das ilhas”, escreve Lélia Pereira Nunes: “Não dá para esquecer a comoção sentida no transladar da imagem acompanhada dos promesseiros e da multidão pelas ruas, cobertas de tapetes, na procissão do domingo. (…) São daqueles momentos únicos que se vive intensamente e que te acompanham como um bem maior tatuado no teu coração pelo resto dos teus dias”.