Laudelino Sardá: Tradições esquecidas
Famílias cultivavam hábitos religiosos, a substituição da folha de ramos pendurada atrás da porta principal da casa, por exemplo, servindo de proteção contra mau olhado e relâmpagos
Neste período que antecede a Páscoa, os nativos seguiam à risca as tradições religiosas e os hábitos herdados principalmente dos açorianos.
Nas sextas-feiras da Quaresma, por exemplo, as refeições eram à base de frutos do mar, até porque só se comia carne quando o boi era charqueado.

O Norte da Ilha era de difícil acesso. O ônibus consumia cerca de quatro horas entre Canasvieiras e o Mercado Público, no centro de Floripa. Ainda na sexta-feira que antecede a Páscoa, não se podia pegar em balaio (cesto de cipó).
Leia mais
As famílias cultivavam hábitos religiosos, a substituição da folha de ramos pendurada atrás da porta principal da casa, por exemplo, servindo de proteção contra mau olhado e relâmpagos; e a esperada confraternização entre famílias no domingo de Páscoa, com almoço compartilhado e o café da tarde recheado de bolos, rosca e biscoitos.
O café era produzido em algumas regiões do Norte da Ilha. O outono, que se inicia neste domingo, é uma estação rica em tradições. A religiosidade se estende até o mar, onde a sorte enche as redes de cocoroca, papaterra, sardinhas, espada, corvina, bagre, além da safra de tainha.
Enquanto isso na praia da Cachoeira…
– Ô Venanço, o nosso chocolate da Páscoa era o ovo de galinha cheio de mistura de amendoim com doces.
– Pois então, a minha avó começava duas semanas antes a esvaziar os ovos quebrando só a pontinha. E preparava o recheio que enchia a nossa pança. E a gente ficava sem ver carne nas cinco sextas-feiras, lembras?
– Até porque, Lelo, carne era objeto de luxo, né? Só pra ter uma ideia, o padeiro Aparício vinha a cavalo lá do Ribeirão da Ilha trazer pão aqui pra Cachoeira. E colocava os balaios pendurados na cela. Só que na sexta-feira da Quaresma não se podia tocar no balaio. A minha mãe dizia pra ele na quinta: “Amanhã tu não me aparece aqui com esses balaios, heim…” E Aparício enrolava os pães numa toalha de mesa, amarrada na cela do cavalo.
– Venanço, o outono é o melhó período pra gente, tu não acha?
– Sim, Lelo, de boas safras, festas e alegria. Pena que tudo isso foi estragado por esse ixtepô do vírus. E muita gente tá chorando seus mortos. Que tristeza!
Participe do grupo e receba as principais notícias
da Grande Florianópolis na palma da sua mão.