Com estúdio de dança em SP, Graziela Meyer ensina pole dance como método de autoaceitação
A catarinense, idealizadora do coletivo "Maravilhosas Corpo de Baile", utiliza a dança na busca pela sensualidade e evolução da autoestima
De cabeça para baixo ou girando ao redor da barra de ferro, a florianopolitana agora radicada em São Paulo Graziela Meyer, de 38 anos, conta que os movimentos que realiza no pole dance vão além de técnicas ensaiadas e exercícios corporais. Com mais de duas décadas de experiência no teatro, a professora de dança vê a prática como uma união entre a autoaceitação do corpo, a busca pela sensualidade e a evolução da autoestima. “Quando eu danço eu falo sobre mim. Hoje, através do pole, vejo que me comunico muito melhor do que me comunicava através do teatro”, afirma.

Foi através do pole dance que Graziela também absorveu o feminismo. Ela é a idealizadora do projeto Maravilhosas Corpo de Baile – Ame seu Corpo Dançando, escola e coletivo de mulheres sediado em São Paulo que trabalha a dança e relação amorosa e leve com o corpo. “É muito legal eu, como mulher, entender que meu corpo pode celebrar a sexualidade e mostrar todas as coisas bonitas que posso fazer”, revela. Para Graziela, a mulher é colocada socialmente de uma forma que o seu corpo serve, essencialmente, como objeto de desejo dos outros. Por causa disso, acredita que muitos profissionais tentam afastar o pole dance de seu aspecto sensual e dos cenários que o popularizaram, associando-o ao lado fitness.
“É uma prática muito completa, que vai desde o fortalecimento muscular à consciência corporal”, explica a catarinense. O primeiro contato da professora com a técnica ocorreu em 2015, quando uma amiga sugeriu que ela participasse de uma aula. “Eu sempre me interessei por formas de movimentar o corpo e estava vivendo uma fase muito atleta. Eu fazia musculação, corria, pedalava e nadava, além de fazer balé”, relembra.
Após fazer a primeira aula em Curitiba, onde foi tocar como DJ, chegou a dançar três vezes por semana em Florianópolis. “Não comecei a fazer [a dança] para seduzir outras pessoas, e sim para me sentir confortável comigo mesma”, afirma. Depois de três meses, instalou uma barra de ferro em casa e passou a treinar no tempo livre. No entanto, não recomenda que iniciantes pratiquem a atividade sem orientação.
Para Graziela, as duas décadas de teatro e a consciência corporal que ganhou por meio do esporte foram fundamentais para o aperfeiçoamento. “Tudo que faço hoje na dança e no pole vem do teatro”, analisa. A professora, que estreou nos palcos em 1995, estudou artes cênicas no Rio de Janeiro, mas não chegou a se formar. Nas décadas seguintes, participou de diversos cursos e workshops na área.
Entre as práticas que originaram o pole dance está o mallakhamb, um tipo de ginástica indiana em que os praticantes realizavam acrobacias em um mastro. Elementos de yoga também foram incorporados e, segundo Graziela, a influência dos movimentos circenses foi fundamental para a popularização. “O público começou a gostar e isso evoluiu para as barras de ferro das boates, nos anos 1940 e 1950”, explica. Foi nos anos 2000, no entanto, que o aspecto fitness foi reforçado. “As mulheres não queriam ser vistas como strippers, e até hoje tem muitos lugares por aí que investem apenas nessa abordagem”, diz.
União na dança
Enquanto aperfeiçoava o talento em outras danças, como chair dance e stiletto, em São Paulo, Graziela ouviu de amigas que deveria compartilhar o talento na barra de ferro. “Eu fechei três turmas com 15 alunas e comecei a dar workshops de pole dance. Eles acabaram virando turmas de dança regular e eu também passei a dar aula na minha casa, para amigas”, conta.

Em 2016 ela criou o Maravilhosas Corpo de Baile, e, em maio de 2017, inaugurou a sede do coletivo. Ao lado de uma sócia e outra professora, oferece aulas de dança afro, flexibilidade, pole dance e dança no salto. O estúdio tem 60 alunos, com idades entre 17 e 45 anos. Para as mais novas, aconselha, o ideal é trabalhar a autoestima. “Precisamos entender o nosso corpo, pois ele é a nossa história. As fotos a gente perde, mas cada momento que vivemos fica registrado no nosso corpo”, garante.
A sororidade, termo em alta no feminismo, também é presente no grupo. “Tem gente que diz que em lugares cheios de mulheres há muita competição, mas eu sempre encontrei espaços que recebem bem e incentivam o pessoal. É em lugares assim que você se depara com corpos que não vê nas revistas e começa a aceitar o próprio corpo”, diz. Fora do estúdio, o projeto tem parceria com o coletivo Pilantragi, que participa de blocos de carnaval, ocupações e festas em São Paulo. Mesmo com o sucesso do estúdio, Graziela não abandonou a capital catarinense – ela costuma visitar a família uma vez por mês. “Quero consolidar o estúdio em São Paulo e, quem sabe, espalhar o Maravilhosas pelo mundo”, conta.
Acesse e receba notícias de Florianópolis e região pelo WhatsApp do ND+
Entre no grupo