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Grupo de imigrantes venezuelanos comemora o primeiro Natal no Brasil
Seis famílias vivem juntas há pouco mais de 40 dias em uma casa mantida pela Pastoral do Imigrante, em Florianópolis
*Correção: A capital de Roraima é Boa Vista, diferentemente do que foi informado anteriormente. A reportagem já está corrigida.
Este será o primeiro Natal de Steven. O menino de pouco mais de seis meses de idade nasceu em um acampamento em Roraima, no Norte do Brasil. Filho dos venezuelanos Emilly e Ober Marcano, ele e o irmão, Sebastian, agora vivem em Florianópolis com os pais, numa casa mantida pela Pastoral do Imigrante no bairro Estreito.
Na sala da casa, onde vivem outras cinco famílias, a árvore recheada de enfeites natalinos e iluminada por brilhos amarelos lembra que a comemoração se aproxima.

O primeiro Natal do menino será o segundo da família no Brasil. A ceia natalina do último ano foi improvisada e compartilhada com seus conterrâneos no abrigo em que viviam na cidade de Pacaraima, localizada a 215 km de distância da capital de Roraima, Boa Vista.
Depois da refeição feita com doações, Emilly, que já estava grávida, voltou para sua barraca acompanhada dos filhos. A madrugada foi de insônia. Deitada em um colchão improvisado colocado sobre o chão de barro, ela sentiu saudades de casa.
Saudade é a palavra usada para descrever a dor da ausência, um sentimento universal. O substantivo abstrato, porém, com o sentido descrito anteriormente, só existe no português. Mas isso não impede que a venezuelana sinta saudade.
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A véspera de Natal em sua casa era um dia de mobilização de parentes e amigos na cozinha. Os preparativos começavam com cedo, com a seleção dos ingredientes para a feitura da hallaca, o elemento central das ceias natalinas venezuelanas.
A iguaria típica do país latino é preparada de diferentes formas, mas têm como base um guisado com carnes boi, porco e frango cortadas em cubinhos envolto em uma massa empacotada em folhas de bananeira. O prato recebe ainda temperos variados, com destaque para cheiro-verde e pimenta a gosto.
Brasil é o recomeço das famílias
Diana, Alberto e José Miguel também moram na casa da Pastoral. Juntos, os três saíram da Venezuela no dia 13 de abril deste ano. No país natal, ela trabalhava como manicure e ele, como pedreiro. Chegaram a Pacaraima sem garantias de emprego e moradia, mas mantinham a esperança de melhores condições de vida.

Na casa, sua rotina é de cuidados com o pequeno José Miguel de dez meses e na procura por um emprego fixo. Os dois vivem do pagamento de diárias por bicos e doações.
Comemoraram no Brasil o Dia das Mães e dos Pais, São João e demais feriados. O Natal no Brasil é uma novidade para eles. Suas tradições na celebração da data são parecidas com as brasileiras, fazem a ceia e trocam presentes na manhã do dia 25 de dezembro. Contudo, aqui não contarão com a presença da família.
Crise provocou um movimento de imigração
A Venezuela enfrenta uma crise política e humanitária. Governado por Nicolás Maduro há seis anos, o país sofreu as consequências da desvalorização do petróleo, que gerou reflexos na vida da população. Itens da cesta básica não eram mais encontrados nos mercados e o bolívar venezuelano, moeda do país, sofreu uma forte desvalorização em relação ao dólar.
Com condições de vida precárias, muitos venezuelanos migraram em busca de uma vida mais confortável. O Brasil é quinto país com maior contingente de refugiados venezuelanos do mundo. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), são 168 mil pessoas.
Não existe um dado específico sobre o número de imigrantes da Venezuela em Santa Catarina. No CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais), 5.762 estrangeiros estão cadastrados. Florianópolis é a cidade que mais concentra venezuelanos, haitianos, sírios e demais povos.
Acolhimento é feito pela Pastoral do Imigrante
A casa mantida pela Pastoral do Imigrante está em funcionamento há 40 dias. Com nove quartos, o local tem câmeras de segurança e regras de comportamento. Os moradores devem voltar para casa até às 21h, momento em que o portão é fechado. Existem também horários para as refeições: o café é servido às 9h; almoço, às 12h; e jantar, às 19h.
Ali, voluntários se dividem no cuidado com as famílias. De volta ao Brasil há um ano após trabalhar em Lima, no Peru, o padre Marcos Bubniak é quem coordena o espaço. “Era para eu ter ido para Curitiba ver a minha família há dois dias, mas não fui ainda. Temos muito trabalho aqui”, comenta o padre.
As famílias só podem morar ali por três meses. A pastoral também fornece suporte aos moradores, ajudando no aprendizado do português e na elaboração de currículos.

Natal terá ceia típica da Venezuela
No espaço de convivência, uma mesa farta recebia adultos e crianças. Brigadeiros, salgados e bolos caracterizavam um café da tarde com elementos típicos da fartura natalina. A ação foi apenas uma das atividades de Natal desenvolvidas para as famílias neste mês de dezembro.
A refeição foi seguida pela entrega de presentes dados pelos voluntários. Os embrulhos coloridos foram recebidos com festa pelas crianças. Sebastian, o filho mais velho de Emilly, ganhou uma calça e um tênis novos. Quando perguntado se iria usar as roupas na escola, ele respondeu com um enfático não. Aquelas seriam peças para ocasiões especiais.
Para a véspera de Natal os 20 moradores da casa planejam preparar uma ceia típica da Venezuela. Diferentemente da rotina marcada pela angústia, que enfrentam desde que decidiram deixar seu país, a noite será apenas de celebrações.
Emilly planeja cozinhar uma porção de hallaca e servir ali mesmo na mesa próxima à churrasqueira. Mesmo com saudades de casa, eles acreditam que este Natal marcará o recomeço no país que os acolheu.