Igualdade e Educação Henrique Stodieck:(Trecho de um discurso)
Henrique Stodieck faria 108 anos dia 27 e dia 28 do mesmo mês, 47 anos da sua morte
Todos sabemos que não há diferenças raciais que se manifestem em
diferenças morais e intelectuais. Mas há modalidades individuais das
qualidades físicas, morais e intelectuais. A democracia social trata os
indivíduos diferentes de forma desigual, a fim de estabelecer igualdade social, igualdade que não existe de fato; protege os hipo-suficientes, suprindo as falhas da natureza.
Igualmente, para a democracia social, é um ideal a ser alcançado,
partindo da desigualdade real.
Numa perfeita democracia, preconceitos raciais não devem existir. Neste
particular, o brasileiro é talvez o mais perfeito democrata, pois que o
preconceito que entre nós existe, não tem força para impedir que negros e
amarelos possam subir na escala social. Temos, portanto uma tradição a
conservar e evitar que sejamos contaminados pelos preconceitos vigentes
entre outros povos. Cumpre-nos fazer mais ainda – não somente tratar com igualdade a todas as raças, mas, se contra uma ou algumas existirem
prevenções, devemos, de acordo com os princípios da democracia social,
conceder-lhes certas vantagens, para remediar os males que possam sofrer em consequência desses preconceitos.
Na verdade, este não é problema grave para nós. Temos, porém, outro:
a sociedade brasileira, como aliás todas as demais, está dividida em classes.
Até mesmo a sociedade russa, que pretendeu abolir essas diferenças, é
efêmera desse mal. Lá existem, conforme o depoimento de Timasheff, quatro classes sociais: a dos dirigentes, a dos comunistas que não pertencem ao partido, a dos operários e dos camponeses, e, enfim, a dos antigos burgueses e aristocratas, essa última considerada à margem da sociedade, com direitos reduzidos.
Não podemos pretender abolir, pelos menos de uma só vez, as
diferenças de classe. Mas, podemos, sem-dúvida, procurar-lhes a redução
progressiva, suprindo as deficiências dos fracos, como acontece, por exemplo, com a legislação trabalhista, que, com meridiana evidência protege economicamente os fracos.
A educação pode contribuir, de forma eficiente, para diminuir as
distâncias que separam as classes sociais. Cabe-lhe suprir as falhas
econômicas dos fracos, fornecendo-lhes meios para escalarem os degraus
sociais, facilitando a flutuação das elites. Ao professor compete completar a obra do governante, estimulando, orientando e selecionando os mais aptos para tornar realidade o que John Dewey considera fundamental numa democracia: a cada indivíduo cumpre ocupar a posição que ele, e somente ele, é capaz de preencher.
Dessa maneira concebida a igualdade, ela se enquadra perfeitamente
no conceito da terceira liberdade de Roosevelt: a liberdade de viver em
suficiência, com satisfação econômica assegurada. Desaparecendo o desnível bruta entre as classes sociais; havendo proteção para o fraco, desaparecerá também a insatisfação econômica.
Para implantar no espírito da criança o sentido igualitário, o professor
dará o exemplo: tratará a todas com o mesmo critério de justiça, não
favorecendo os filhos de pessoas influentes. A criança é extremamente
sensível em relação às injustiças praticadas pelos professores. Evitará o
mestre a formação de ressentimentos, procurando auxiliar os destituídos de inteligência, os abandonados pela sorte e os protegidos pela sociedade.
“Fonte: Revista de Atualidades: Primeiro Congresso de História Catarinense.
Edição Comemorativa – 1948 – n. 10 – Florianópolis – Outubro.
Henrique Stodieck, “humanista, filosofo, sociólogo, educador, cultor do direito, escritor, juiz”, nasceu em Florianópolis em 27/08/1912, filho de Ernesto Stodieck e Lucy Moellmann, faleceu em 28/08/1973.
Admirado nacional e internacionalmente pela sua erudição e produção
intelectual, foi considerado pelo imortal da Academia Brasileira de Letras
Evaristo de Moraes Filho, como um dos homens mais cultos do seu tempo.
