Moradores do Porto da Lagoa, em Florianópolis, perdem área de lazer
Terreno utilizado como campo de futebol foi reintegrado ao proprietário após 25 anos de disputa judicial
Os moradores do Porto da Lagoa, Leste da Ilha, perderam ontem a única área de lazer do bairro. Mesmo diante de protestos, que culminaram com o fechamento da avenida Osni Ortiga, operários concluíram a derrubada da sede da Sociedade Esportiva Palmeiras, conhecida carinhosamente como Palmerinha.
O local era alvo de disputa judicial há 25 anos. Agora, a comunidade aguarda a intervenção da Prefeitura de Florianópolis no caso. O prefeito Dario Berger (PMDB) já manifestou o interesse em adquirir o imóvel, desde que com preço justo.
O espaço de 8.020 metros quadrados era utilizado há 50 anos como campo de futebol para o time do bairro, duas escolinhas da modalidade e também para eventos em datas festivas, como o Dia das Mães. O presidente do Palmerinha, Izaías Bittencourt, lamentou a decisão. “São pelo menos 4 mil pessoas que não terão mais uma área de lazer na região para usufruir. Nos tomaram brutalmente”, reclamou. Além de derrubar as traves do campo e arrancar o alambrado, os operários inutilizaram parte do gramado, com buracos e brita.
Volnei Medeiros, herdeiro da área, não poderá construir no imóvel recém-conquistado na Justiça. Desde 2005 o terreno é considerado uma AVL (Área Verde de Lazer), que impede construções. O espaço só pode ser utilizado para estruturas de lazer.
Lincoln Porto, advogado do proprietário, já adiantou que haverá nova batalha judicial. “Vamos entrar com uma ação indenizatória contra a prefeitura”, ressaltou.
Dario Berger afirmou não saber que a área do clube era alvo de disputa judicial. Segundo ele, a prefeitura tem interesse em adquirir a posse do terreno para preservar o espaço de lazer da comunidade. “O primeiro passo é conversar com o proprietário. Se houver a possibilidade de negociação, vamos pagar um valor compatível com os laudos e avaliações”, ressaltou.
Escolinhas atendiam 250 alunos
O espaço era usado pela escolinha do Palmerinha, uma outra licenciada pelo Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, e pelo Instituto Lagoa Social. Eram atendidos ali cerca de 250 alunos de 6 a 14 anos. Os alunos pagam R$ 15 mensais para participar da escola. Alguns, que não tinham condições, eram isentos. A entidade arrecadava fundos também com o aluguel do campo para pessoas de fora da comunidade por R$ 50 a hora.
O presidente do Palmerinha, Izaías Bittencourt, garantiu que não havia lucro. Todo valor arrecadado era usado para pagar o contador e despesas administrativas como contas de água e luz.
O presidente do Instituto Lagoa Social, Pedro Almeida, lamentou a interdição do campo e apoia a comunidade na retomada do local. “Infelizmente, isso está acontecendo em outras partes da cidade. Em vez de manter e incluir mais áreas verdes e de lazer, só crescem empreendimentos e a comunidade fica sem espaço”, disse Almeida.
O professor Cesar Garcez, 52 anos, é contrário à reintegração de posse. Mas ele acredita que se o espaço voltar para a comunidade, pode ser melhor aproveitado. “Tem que fazer campo de futebol, quadra de vôlei, pista de skate e uma área de uso polivalente. Assim todos podem usar”, sugeriu Garcez.
Comunidade protesta
A reintegração de posse revoltou os moradores da comunidade. Nesta quarta-feira, a avenida Osni Ortiga foi fechada com paus e pneus queimados. Os protestos ocorreram em dois horários: um às 10h e o outro às 18h, quando muitas pessoas voltam para casa após o trabalho. Houve formação de filas.
Apesar das manifestações terem ocorrido de forma pacífica, pela manhã os policiais militares precisaram jogar uma bomba de efeito moral para dispersar a multidão. Nesta quinta-feira, há possibilidade de ocorrerem novos protestos. Porém, as lideranças comunitárias não confirmam a realização ou até o horário do possível bloqueio do trânsito.
O presidente da Associação de Moradores do bairro, Luciano Pereira, disse que a intenção é reivindicar rapidamente uma ação da prefeitura. “Queremos nossa área de lazer de volta”, justificou.
Confira o vídeo com a manifestação de quarta-feira:
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