Vida marinha na Lagoa da Conceição está comprometida, diz laudo da UFSC
Pesquisadores da UFSC emitiram o primeiro relatório de monitoramento da qualidade de água da Lagoa da Conceição após o rompimento da lagoa artificial da ETE da Casan
Pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) emitiram o primeiro relatório de monitoramento da qualidade de água da Lagoa da Conceição após o rompimento da lagoa artificial da ETE da Casan.
O documento confirma o comprometimento da vida da comunidade bêntica – organismos que dependem da vida marinha pra sobreviver – na Lagoa da Conceição, promovida pelo lançamento de efluente tratado, com análise de oito amostragens coletadas ao longo de duas semanas após o desastre ocorrido no dia 25 de janeiro de 2021.

Com o rompimento da lagoa da Casan após dias de fortes chuvas, toneladas de sedimentos (areia) e de matéria orgânica foram despejados na Lagoa da Conceição.
O sedimento arenoso transportado pela enxurrada depositou-se numa área às margens da lagoa e modificou a topografia do local. Para efeitos de estudo, esse local foi designado como ponto zero pelos pesquisadores.
As amostras estabelecem comparações entre o ponto zero e outras áreas de controle da lagoa. Além de areia depositada no ponto zero, “observou-se sedimento lamoso com elevada concentração de biodetritos (raízes, folhas, galhos em diferente estágio de decomposição)”.
Segundo o relatório, esse material ficou concentrado na margem da Lagoa nos primeiros dias, mas se dissipou. Os pesquisadores ainda estimaram que a quantidade de NID (Nitrogênio Inorgânico Dissolvido) e PT (Fósforo Total) lançados na Lagoa da Conceição representou “15 dias da carga emitida de N (Nitrogênio) e 61 dias da carga emitida de P (Fósforo) pela bacia hidrográfica via rios no sistema”.
Como agravante, o documento cita o fato de o local atingido apresentar “uma característica hidrodinâmica de baixas velocidades médias, dificultando a dispersão, principalmente nas partes mais profundas da laguna”.
Os pesquisadores ainda sistematizaram os dados parciais de pH, temperatura, salinidade e concentração de OD (oxigênio dissolvido).
Analisados, permitiram avaliar a extensão do desenvolvimento da zona morta. “Os parâmetros físico-químicos da água revelaram efeito significativo do efluente sobre a disponibilidade de OD e valores de pH”, constata.
Nos ambientes relacionados ao ponto zero, os valores de OD foram equivalentes aos observados em ambientes mais profundos da lagoa, onde ocorre a chamada zona morta.
As análises permitem considerar que a alta carga de sólidos suspensos totais lançada e estimada em 5,08 toneladas compromete a vida da comunidade bêntica, organismos que vivem sobre e dentro do sedimento, como poliquetas e berbigão.
“Isso ocorre, pois o denso material rico em matéria orgânica se depositou no sedimento, sufocando-o, impedindo a oxigenação do sedimento e a circulação da água na interface sedimento-água, por onde esses organismos retiram seu alimento e efetuam as trocas gasosas para o seu metabolismo”, explica o relatório.
Falta de ações pode levar Lagoa a ultrapassar “limite ecológico”
Em conclusão, o relatório recomenda a continuidade do monitoramento da Lagoa da Conceição por no mínimo seis meses, além do início imediato de ações de mitigação e restauração do ecossistema.
De acordo com os pesquisadores, a falta de ações imediatas de mitigação pode levar a Lagoa da Conceição a ultrapassar o seu “limite ecológico”.
“É fundamental que o processo de restauração dos ambientes afetados pela lagoa artificial da Casan contemple a revisão dos métodos de tratamento (para o sistema terciário) e de disposição dos efluentes da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) em questão, até que alternativas mais robustas e seguras sejam discutidas e implantadas para garantir a saúde dos ambientes e a integridade das pessoas”, conclui o relatório.
O documento é assinado pelo Projeto Ecoando Sustentabilidade; LBCM (Laboratório de Biodiversidade e Conservação Marinha); Lafic (Laboratório de Ficologia); Loqui (Laboratório de Oceanografia Química e Biogeoquímica Marinha), Nemar (Núcleo de Estudos do Mar) e Veleiro Eco.
O que diz a Casan
De acordo com a assessoria da empresa, a Casan afirma que está acompanhando os estudos e fazendo os seus próprios.
“Os dados ainda são iniciais para conclusões mais precisas sobre o impacto gerado e a resposta da Lagoa na recuperação, no entanto os resultados preliminares dos parâmetros monitorados têm mostrado que a Lagoa se encontra dentro do esperado para um manancial dessa características.
‘Contudo, não podemos alegar ainda com precisão que a Lagoa está recuperada, por isso nosso interesse em ficar monitorando por um prazo maior e em toda sua extensão, explorando desde ensaios microbiológicos, visuais, físico-químicos e hidrobiológicos, que irão permitir uma avaliação ampla e mais precisa em relação a todo o impacto ocorrido’, diz a última avaliação de nossos pesquisadores”, informa a Casan, em nota.
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