Acompanhe os detalhes da ocorrência com o repórter Moisés Stuker.
Engraçados e bonitinhos, saguis escondem riscos à população e ao ambiente em Florianópolis
Pequeno macaco é uma espécie exótica invasora no Sul do país e, por isso, não possui um predador natural. Orientação é de não alimentar e manter distância do primata, que pode transmitir doenças
A simpatia dos saguis esconde riscos ao meio ambiente e à população de Florianópolis. Com gestações de gêmeos e trigêmeos, eles estão desenvolvendo uma superpopulação na Ilha de Santa Catarina. O pequeno macaco é uma espécie exótica invasora na região Sul do país e, por isso, não tem um predador natural. Em função disso, a coordenadora do Parque Estadual do Rio Vermelho, bióloga Adriana Nunes, alerta que os saguis não devem ser alimentados, domesticados e nem comercializados, porque são animais silvestres. A preocupação do chefe do Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres), subtenente da Polícia Militar Ambiental Marcelo Duarte, é de que a superpopulação de saguis possa disputar a mesma cadeia alimentar do macaco-prego, que é uma espécie nativa.

O Cetas recebe em média de dois saguis por mês e a grande maioria sofre acidentes de choques elétricos. “Os saguis encontraram um local adequado para se reproduzirem aqui na nossa região e eles vêm se adaptando. A gente alerta para que as pessoas não alimentem estes animais, porque eles sempre voltam em busca de comida fácil e acabam invadindo residências e provocando outros danos. As pessoas acham bonitinho, mas os animais silvestres precisam buscar alimentos por conta própria”, esclarece Duarte.
Natural das regiões Sudeste e Nordeste do país, os saguis sempre estão em bandos. Com hábitos diurnos, eles costumam ficar sobre as copas das árvores e se alimentam de frutas, insetos e da seiva das árvores. O subtenente lembra que existem três espécies na Ilha: os de tufos brancos, os de tufos pretos e os de cara branca.
Duarte destaca o risco de doenças que esse animal pode provocar. “Os saguis também são transmissores da febre amarela, além de outras doenças e, por isso, não incentivamos o contato com o animal”, afirma o chefe do Cetas. Todos os saguis que chegam ao Cetas não são soltos, mas podem ser encaminhados a criadores, zoológicos e mantenedores da fauna ou científicos.
Preocupação com outras espécies
Com gestações de aproximadamente 120 dias, que podem iniciar durante a amamentação, um casal de sagui pode ter nove filhotes por ano. O subtenente Marcelo Duarte explica que o casal de macaco-prego tem um filhote por ano e, provavelmente, disputará a mesma cadeia alimentar com o sagui. O predador natural dos pequenos macacos são as aves de rapina.
Além disso, as três espécies na Ilha de Santa Catarina estão procriando uma espécie hibrida. “O sagui come a goma das árvores, os insetos e os pequenos frutos. Com uma superpopulação, eles aprenderão a comer os frutos maiores, que hoje são dos macacos-pregos, e podem ameaçar essa espécie também. Para piorar, as três espécies de saguis na nossa região estão procriando outra”, afirma.
Para controlar a superpopulação de saguis, os médicos veterinários do Cetas, João Vitor Roeder e Daniel Angelo Felippi, fazem a vasectomia nos machos. Os animais não são castrados porque haveria uma alteração hormonal.
Bióloga lamenta a falta do censo
A bióloga Adriana Nunes afirmou que ainda não existe um censo para saber qual a população de saguis na Ilha. Ela acredita que o estudo poderia colaborar a entender melhor a espécie, que cada vez está mais presente em áreas urbanas. “Sem um predador natural na região, que seriam as aves de rapina, não sabemos a população de saguis por falta de pesquisa. Com esses números poderíamos fomentar outras pesquisas sobre as questões de zoonoses e da cadeia alimentar, que ainda não estão muito bem esclarecidas”, argumenta. Todos os animais encontrados de outras regiões ou em situação de vulnerabilidade são encaminhados ao Cetas.

As espécies de saguis encontrados na Ilha de SC
Sagui-de-tufos-brancos tem ocorrência na Caatinga;
Sagui-de-tufos-pretos habita principalmente as áreas de Cerrado;
Sagui-de-cara-branca é típico da Mata Atlântida.
Fonte: Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres)
Números de animais recolhidos por ano
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Sagui – 25 41 24 33 29 50 29
Macaco-prego – 15 8 11 13 16 10 12
Fonte: Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres)