A pandemia do poder no Brasil
A grande dúvida é se ainda existem partidos saudáveis nesse universo mercantil, fragmentado por 35 agremiações oportunistas
Os tempos andam tão “hereges”, como diria dona Ester, minha avó, que os políticos estão se lavando em dinheiro público com a garantia de que “isso não é mais crime”. Ou já prescreveu, ou foi julgado em foro errado.
É o caso de se entregar o Brasil de volta para Portugal e pedir a Pedro Álvares Cabral que suba o Atlântico de volta – e “rebobine” a fita, chegando de volta à foz do rio Tejo – e de ré. Todos querem o poder. Não importa por que meios. Todos querem “se salvar” antes de salvar o Brasil.

Mas quem, por um único instante, pensa no país que está sendo depredado e ordenhado, em meio a uma sinistra pandemia? Todos desejam o poder, mas não se importam se ainda haverá um Brasil quando lá chegarem.
O primeiro princípio da democracia é a alternância no poder – pelo voto direto, é claro. Rupturas constitucionais, como um “impeachment”, são terremotos. Existem. Mas são sinais de grande fragilidade.
Há um momento em que ou a democracia se instala pela tolerância e pelo entendimento ou… o drama se torna shakespeareano, dando oportunidade à guerra civil e ao banho de sangue. Fora de partidos políticos acreditados, não há salvação. Mas este é o produto mais raro no Brasil de hoje, infelizmente.
Boa parte dos partidos que aí estão – no poder ou na oposição – estão todos contaminados pelo tsunami da corrupção e não se qualificam como protagonistas de uma possível redenção. Teríamos que estimular um entendimento de união nacional a partir das partes saudáveis dos atuais partidos.
A grande dúvida é se ainda existem partidos saudáveis nesse universo mercantil, fragmentado por 35 agremiações oportunistas. As maiores cultivam o “poder eterno”, pouco importando os meios. As menores, vivem de vender sua mercadoria, que é alugar apoios…
Dura realidade: os que estavam no poder cavaram o maior poço da história republicana – e lá enterraram o país. Os que chegaram, abatidos pela depressão econômica da pandemia, só pensam em reeleição, mas carecem de credibilidade – patrimônio escasso ou inexistente nas agremiações de hoje.
A sociedade brasileira não merece essa simples polarização. É triste ficar sabendo agora que só nos resta a escolha entre o menos ruim e o menos pior.Vivemos a Babel bíblica. Ninguém se entende e todos só concordam em discordar.
Para que a tragédia shakespeareana não se consuma, este belo país precisa elevar suas preces ao Criador para que “Ele” assuma o Ministério do Bom Senso e evite uma terrível e destrutiva guerra civil – irmãos contra irmãos, transformados em “massa de manobra”, a serviço de ideologias fanáticas ou de mera sede de poder.
Sobraria o Judiciário como um poder moderador, sabendo-se que não poderia falhar nem gastar sua rarefeita credibilidade. Será crível um tribunal que leva sete anos para declarar a incompetência legal da 13a. Vara Federal Criminal de Curitiba nos casos da Lava Jato – e só esta semana decide “cancelar tudo”? Se o alicerce “moderador” falha, como este STF, restará a máxima do anarquista Mikhail Bakunin:“Quando a injustiça se torna lei, a resistência se torna um dever”.
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