Um ano de ditadura sanitária
A suposta medida sanitária em questão era o fechamento total das praias do Rio, determinado pelo prefeito Eduardo Paes Ele disse estar seguindo a ciência
Uma mulher com capacete de ciclista é jogada dentro de uma viatura da Guarda Municipal na orla do Rio de Janeiro. Ela tenta pedir a um passante que guarde sua bicicleta, mas um dos cinco guardas armados que a cercam a empurra para o fundo da viatura e fecha a porta.

O veículo leva a mulher presa enquanto parte do pelotão armado permanece na calçada encarando os cidadãos que assistiam à cena – se é que se usa “encarar” quando a cara do desafiante está tapada.
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O pretexto da proteção sanitária é o melhor instrumento para a prática ditatorial. A suposta medida sanitária em questão era o fechamento total das praias do Rio, determinado pelo prefeito Eduardo Paes. Ele disse estar seguindo a ciência. Normal.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, também estava segundo a ciência quando fechou sua cidade e foi para o Maracanã. Era “direito dele”, explicou Covas, cheio de razão – afinal era o seu time que estava em campo e isso é cláusula pétrea de qualquer constituição futebolístico-viral.
O prefeito paulistano se enfiou no meio de 2,5 mil pessoas no estádio carioca – e certamente poderia ter aberto o Parque do Ibirapuera com distanciamento muito maior entre as pessoas.
Essa ciência que os tiranetes da pandemia seguem não tem nada a ver com segurança sanitária. É a ciência do gogó e das manchetes. Eduardo Paes foi antecedido por Marcelo Crivella – que dizem ter sido o pior prefeito da história do Rio.
Pois bem: até o pior prefeito da história entendeu que a circulação ao ar livre sob o sol é importante para a saúde da população – e usou os agentes públicos para patrulhar as areias evitando aglomerações. Eduardo Paes preferiu mandar prender o cidadão e garantir a aglomeração nos transportes públicos, entre outros ambientes mais propícios ao contágio que a imensidão das praias.
É aquela história: ou você censura o cartão postal ou não aparece na TV. Após um ano de ditadura sanitária, é notável como governadores e prefeitos preferiram mandar bater em mulheres. O número de flagrantes não deixa dúvidas: a ciência de cassetete e revólver se excita mais diante da cidadania feminina.
A mulher algemada e jogada no chão sozinha numa praça em Araraquara, a trabalhadora algemada e humilhada em Goiânia, mãe e filho atirados num camburão em Copacabana após um mergulho no mar, a mulher negra escorraçada para dentro de casa por policiais na grande São Paulo, as duas banhistas no calçadão em Niterói cercadas por um pelotão armado e arrastadas para dentro de um camburão. Já são muitas as cenas tristemente famosas.
E o discurso salvacionista com medidas estúpidas continuará sendo um bom pretexto para a escalada autoritária enquanto os humanistas de zoom não retornarem do seu spa na Coreia do Norte
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