REPORTAGEM: Aline Torres, especial para o ND
EDIÇÃO: Felipe Alves e Thamy Spencer
Em outubro de 2014, uma comitiva da Fiesc visitou a Universidade de Stanford, na Califórnia, para conhecer seus métodos educacionais. Na ocasião, foi apresentada ao engenheiro Paulo Blikstein, professor brasileiro da renomada instituição, que comprovou em sua tese de doutorado a eficiência do aprendizado Social Steam Maker, que nada mais é que empregar o conhecimento educacional na vida cotidiana com o máximo de aproveitamento.

Desde pequenos, os alunos desenvolvem o lado cognitivo e intelectual por meio de robótica, e aprendem novas habilidades – Rodrigo Parucker/Divulgação/ND
Em março de 2017, foi implantado o método no Sesi (Serviço Social da Indústria) e no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Santa Catarina. Esse método fez João vencer na Olimpíada Brasileira de Astronomia e transformou os conhecimentos de Bárbara, Júlia e Ian num potente foguete.
A pesquisa de Blikstein começou há 18 anos, com a provocação de que o interesse dos alunos por ciência ou matemática era mais importante do que as suas notas. Baseado nessas crenças, importantes centros de ensino mudaram suas bases curriculares.
Estamos atentos à nova economia. Trazemos programas para preparar esses cidadãos do futuro desde a infância até o ensino superior”. – Claudemir José Bonatto, diretor de Educação do Sesi
e Senai
De acordo o professor, que está à frente do Centro Lemann, em Stanford, a metodologia Steam (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), une disciplinas das cinco áreas do conhecimento, com ênfase nas ciências exatas, e vivências práticas.
A integração entre as disciplinas e a adoção de novos conteúdos, que trazem tópicos das áreas de Engenharia, Biomecânica e Computação, são tendências nos currículos das potências globais. Para ter sucesso, no entanto, precisa ser sedutora. É o aprendizado transformado em prazer.
Modelo dinâmico
Um dos mecanismos é o GoGo Board construído em 2001 por Paulo Blikstein e o colega Arnan Sipitakiat, quando ainda eram estudantes de graduação no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). No modelo atual, aperfeiçoado, os estudantes são estimulados a construir robôs, medir e registrar dados ambientais, conduzir investigações científicas ou criar jogos.
Esse modelo foi replicado em vinte centros de ensino em Santa Catarina. O diretor regional do Senai/SC, Fabrizio Machado Pereira, explicou que o motivo foi modernizar a educação para acompanhar o dinamismo do mundo e as constantes transformação do mercado de trabalho.

Desafio Senai – André Kopsch/Divulgação/ND
A fórmula é uma das estratégicas para evitar uma crise na indústria catarinense e o consequente desemprego dos trabalhadores. A indústria emprega no Estado 750 mil pessoas, sendo que quase 40% desses trabalhadores não tem a educação básica. Alerta para os riscos impostos pelo livre mercado, uma das bases do liberalismo econômico, que cada vez mais trará tubarões estrangeiros famintos para abocanhar o consumidor brasileiro.
“Estamos atentos à nova economia. Trazemos programas para preparar esses cidadãos do futuro desde a infância até o ensino superior”, disse o diretor de Educação do Sesi e Senai, Claudemir José Bonatto.
Em busca de soluções reais
Nos dias 12 e 14 de julho, uma equipe de estudantes do Sesi-Senai de Brusque disputou em West Virginia, Estados Unidos, a First Lego League, torneio de internacional de robótica, que propôs a criação de alternativas que ajudassem astronautas em suas viagens espaciais.
O campeonato foi realizado pela First, organização não governamental, em parceria com empresas como a Qualcomm, Google, Boch, Lego Education, Apple e Boeing.

Robótica Sesi – Rodrigo Parucker/Divulgação/ND
Os estudantes catarinenses voltaram com a medalha de prata de melhor design de robô. A equipe criou a Sunshine, lâmpada que emite raios ultravioletas do tipo B para sintetizar no corpo dos astronautas a vitamina D.
Encontrar um problema na vida dos astronautas foi o primeiro desafio da equipe. A Sunshine foi criada pelos estudantes, contou a supervisora de educação Louise Dorow Caetano, após a descoberta que mesmo ingerindo duas doses diárias de vitamina D, os profissionais voltam à Terra com cerca de 30% a menos do nível ideal. Esses profissionais, portanto, são um grupo de risco para doenças como osteoporose, câncer, depressão e demência.
Robótica já é realidade nas escolas
Para encontrar o problema e embasar a pesquisa, os estudantes leram mais de cem artigos científicos e consultaram o gerente do Centro de Bioquímica Nutricional da Nasa, Scott Smith. Como o excesso de vitamina D também causa doenças, principalmente no sistema renal, a equipe desenvolveu um sensor de radiofrequência e pulseiras.
“A lâmpada é programada para desligar no tempo essencial para cada astronauta e não volta a ligar no mesmo dia. A variação de tempo é de 20 e 60 minutos, dependendo da cor da pele, do peso e da idade de cada um deles”, explicou o técnico da equipe, Claudio Lima Rhenns.
Nesse semestre, o desafio de preparar um robô para a First Lego League de 2020 faz parte do dia a dia de uma equipe de Jaraguá do Sul. A robótica está inserida nos currículos escolares do Sesi desde 2002, mas nos últimos anos ganhou relevância pelos avanços da indústria 4.0, a quarta revolução industrial.